
Uma caminhada que começa nos anos 90, cheia de lutas e desafios com um único objectivo: erguer a bandeira da arte que se chama música. Esta é a cantora moçambicana Rahima que nos conta sobre a sua carreira numa entrevista exclusiva, poucos dias depois do lançamento do seu álbum de 12 faixas “Wirapangue”, no dia 04 de Novembro.
Quem é Rahima e como começa a carreira artística?
A Rahima é uma cantora, que começou a cantar em 1999, por curiosidade aos 15 anos, sempre tive essa paixão e tudo que sempre quis foi cantar. Nessa altura havia Céline Dion e tina muitos outros músicos que eu ouvia muito. Aos 16 anos juntei-me a banda Garimpeiros numa das jornadas deles que eles foram fazer em Nampula e depois foram a Quelimane, foi aí que eu peguei o primeiro microfone e cantei a música dos Kassav.
Quando eu voltei a Maputo, eu no início da carreia comecei a trabalhar com o projecto Mabulo ainda em formação. Mais tarde me juntei a um outro grupo. Participai no projecto CNE na música “Faz Moçambique feliz”, das eleições de 1999. A minha carreira começa no Pazede Jazz Band, eu fui fazendo vários concertos com eles aqui em Maputo, fizemos uma primeira viagem no ano 2000 para Swazilândia. No ano 2000/2001 fomos convidados para o Standard Bank Jazz Festival em Durban. No entanto tivemos também tivemos uma oportunidade de viagem para Suécia e mais tarde para Finlândia no ano de 2001, para dois festivais, emas festivais de música tradicional, não era propriamente jazz, mas era festival de música tradicional, participamos destes festivais e voltamos para Maputo.
Mais tarde decidimos fazer uma viagem para África do Sul a procura de novas oportunidades, no entanto, fui com uma parte da banda. Ficamos cerca em Johannesburg e é um momento que considero um pouco amargo da minha vida. Depois disso migramos para Cape Town, foi onde olhei a música com outros olhos e pude perceber que a arte tinha um pouco mais de valorização naquela parte do mundo , isso fez que eu tivesse novamente a vontade de continuar , no entanto após isso fiquei lá por dois anos e tive experiências muito boas musicalmente mas também acabei me desfazendo desta banda , comecei a fazer a minha carreira a solo.
Em 2009 eu decido voltar a Maputo e formo uma banda a solo, onde me junto a uma banda chamada Yanga project e comecei a fazer composições próprias , essas composições que agora fazem parte do CD, algumas delas começaram naquela banda , fiz espetáculos nacionais e também fomos convidados ao primeiro festival de Benguela em 2011 com este meu projecto em Angola, em 2013 fomos convidados a Angola para participar nestes festivais de Jazz .
Em 2014/2015 dou entrada a uma outra parte da minha vida pessoal , junto-me a um outro grupo de gospel que fizemos varias viagens para Portugal e que volto novamente e continuo com o meu projecto a solo. Continuo com as minhas gravações das músicas, a compor e a fazer alguns espetáculos aqui na cidade de Maputo. De 2016 a 2019 estive propriamente em Maputo a trabalhar especialmente no álbum e em concertos locais.
Dentre estes festivais que já participou qual é o que mais marcou Rahima?
Eu tenho muitos mais outros que já me marcaram, mas na minha carreira com o pazede no meu início de 1999 a 2007/2008 o festival que mais me marcou foi esse da nossa ida a Suécia porque nos tocamos num lugar muito grande, um palco de quase 1000 pessoas e foi muito interessante, uma primeira experiência e num palco assim para mim foi um máximo.
Como é que surge de certa forma a paixão pelo jazz?
O meu percurso no jazz começa com Pazede Jazz Band, a minha carreia começa e ao mesmo tempo começa o percurso do jazz. A paixão pelo jazz nem chega tanto a surgir, foi uma questão imposta, quando eu conheço o grupo Pazede jazz Bande eles só tocavam jazz, tocavam Standard jazz, como eu queria cantar e numa banda eu preferi me adequar e dentro da banda e onde eu aprendo a tocar alguns instrumentos musicais, começo também a ler pauta, as cíprias musicais e fui começando a imitar algumas músicas de afro jazz.
Qual é a sua maior inspiração nesse mundo do afro jazz?
Eu comecei por admirar uma cantora americana chamada Diana Ross que é uma cantora que eu imitava muito e outros que eram nomes sonantes do jazz e não só tem outras africanas que eu gosto e sempre admirei, a Lira faz parte, as cantoras africanas que fazem esse estilo também estão contempladas nesse elenco.
Se não estivesse a fazer afro jazz, qual seria o outro estilo?
Eu gosto de todo tipo de música, gosto de marrabenta, gosto de fusão, gosto de RNB soul, mas eu tenho uma particularidade, eu não gosto de fazer um único estilo, gosto de pegar no RNB e misturar com uma outra excentricidade como o jazz e misturar com afro, eu tenho essa vertente de querer misturar sempre as músicas.
E em Moçambique quem te inspira?
Em Moçambique eu não me inspiro propriamente, mas eu gosto e sempre gostei dos projetos de marrabenta, aqui em Moçambique nós não temos sonantes do jazz, gostei também daquilo que a Mingas representa para o nosso país, a força que ela tinha, aquela banda RM da forma que eles sempre trabalhavam apesar de não ser jazz são pessoas que sempre olhei para elas e sempre admirei.
Onde surge a ideia do álbum “Wirapangue”? Onde surge a inspiração para esse álbum?
A ideia desse álbum surge na tentativa do projeto a solo, eu tinha a vontade de ter o meu próprio álbum, de ter as minhas próprias músicas quando voltei da África do Sul. No entanto conheci essa banda Yanga project e começámos a desenhar algumas músicas, mas eu tinha algumas ideias só que ainda não estavam completas. No entanto com a banda nos fomos ensaiando as minhas ideias até elas se tornarem músicas.
Qual é o significado de “Wirapangue”?
O “Wirapangue” tem o significado de cada letra, que este álbum tem uma nata de artistas da praça e vem de vários anos, não gravei em um ano e nem em dois, foi um trabalho muito ardo e eu decidi em vez de dar um nome simples que seria injusto para esse trabalho, decidi dar um nome justo para este trabalho, decidi dar um nome que em cada letra o “W” tem um significado que é excêntrico e por aí, cada letra tem o seu significado.
Fale-nos das participações.
Tem participação da Pureza Wassimo numa das músicas e algumas composições não são minhas, uma delas que é o nome Tsura do Télio Monjane e tem a participação da voz da Pureza Wassimo , tem também lá no álbum txafuta que é a música que eu fiz um remix da música da Mingas .
Qual é a música que mais te inspira no álbum?
É a música que tem o nome do álbum, essa música tem muita recordação, essa música me faz recordar a minha primeira banda, me faz recordar a minha segunda banda, me faz recordar aquilo que foi o meu início de história e essa música me identifica, porque eu sou uma pessoa que gosta de uma mistura, fusão e por ai, é uma música que eu me identifico pessoalmente como a música do álbum e quem o nome do álbum o Irrapangue .
Se fosse convidar um artista para participar deste álbum quem seria?
Eu tenho a vontade de gravar com muitos artistas, não só os da praça e é o que após eu gravar o meu álbum vou fazer , gravar com nomes e gravar com artistas , todos eles , pra mim toda nata musical , todos artistas da praça são pessoas que eu admiro , e vou dizer sinceramente que a música aqui em Moçambique esta num nível muito alto, os músicos estão a trabalhar pra valer , vale a pena apostar na música , não só popular como também naquelas músicas que nos não achamos populares estão a ter muita qualidade. Não estou a fugir da questão, mas eu estou aberta para participações, quero participar com todos e este até é o meu lema daqui para a frente, uma vez que já gravei o meu CD quero fazer participações com vários artistas.
Alguma vez ouviu falar da venda de música digital e como chega a conhecer a Modig?
Eu chego a conhecer a Modig através das redes sociais e pelo bom trabalho que a Modig está a fazer com os artistas e eu também decidi me integrar a essa família. Acho maravilhoso e a recepção esta a ser boa nesta digressão de marketing daquilo que é o álbum está a ser muito boa e eu quero que realmente apesar do nosso país estar um bocadinho atrás nesse aspecto da distribuição digital e muito bom que nos os artistas possamos influenciar não só a camada jovem, como também a sociedade em geral a começar a praticar essa questão de aderir os trabalhos culturais em plataformas digitais.